Relação da exposição a pesticidas e tabagismo no desenvolvimento da doença de Parkinson: um estudo transversal
Artigo
A doença de Parkinson (DP) é caracterizada pela degeneração dos neurônios dopaminérgicos da substância negra parte compacta, redução da dopamina estriatal e inclusões proteináceas intraneuronais que contêm essencialmente a proteína ¿-sinucleína. Sua etiologia engloba uma interação complexa de fatores ambientais e genéticos. Dentre os ambientais, a exposição a pesticidas é estudada como fator de risco, enquanto o tabagismo relaciona-se inversamente como fator de proteção, devido a possíveis efeitos neuroprotetores da nicotina. Estudos que correlacionam tais fatores preditores de forma conjunta são escassos na literatura. O presente estudo visou avaliar a relação entre a exposição a pesticidas e o tabagismo no desenvolvimento da DP. Para isso, foi realizado um estudo transversal com a seleção e posterior entrevista de 47 pacientes diagnosticados com a DP, atendidos no serviço ambulatorial durante os anos de 2019 e 2020. Os pacientes foram abordados a respeito da história natural da doença, história laboral, hábitos de vida e exposição a agentes tóxicos. Como resultados, a amostra de 47 pacientes teve como média de idade 73,51± 9,04 anos e foi composta por 25 (53,19%) pacientes do sexo feminino. O contato profissional com a agricultura foi referido por 53,18% (n=25). A área rural representou 48,93% (n=23) do local onde residiram a maior parte da vida. A exposição a pesticidas foi reportada por 91,66% (n=22). O tempo de contato com tais agentes tóxicos variou de 3 a 65 anos, com uma média de 37,45±17,64. A classe de pesticida mais utilizada foi a de herbicidas, sendo o uso referido pela metade daqueles que se expuseram a pesticidas (n=11). Evidenciou-se uma antecipação nas idades de início dos sintomas e de diagnóstico da DP em cerca de 8 anos nos indivíduos que durante sua história laboral tiveram contato com pesticidas, reiterando o potencial risco da exposição aos mesmos. Ainda, demonstrou-se que indivíduos fumantes reverteram significativamente o prejuízo advindo da exposição a pesticidas, de forma que seu início da DP equiparou-se àqueles pacientes não expostos a pesticidas.